A “GUERRA” DOS ATRIBUTOS
A “GUERRA” DOS ATRIBUTOS
Saiba quais necessidades motivam o surgimento de novos atributos e para onde caminha o futuro das tintas imobiliárias.
Por Felipe Diotaiuti
Começamos este texto voltando bastante no tempo, mais precisamente para o século 19, e não tão precisamente para meados dos anos 1860 – 1870.
Mais ou menos por aí foi criada (na verdade formulada quimicamente na Europa) a primeira tinta arquitetônica, com mais ou menos as matérias primas que conhecemos hoje: resinas (sintetizadas em laboratório), pigmentos, solventes e alguns poucos aditivos básicos.
Até então, claro, existiam tintas, mas as performances não eram satisfatórias, as qualidades - principalmente de resinas naturais - não proporcionavam nem sequer uma razoável expectativa de resistência e durabilidade.
É importante dizer que o processo de aplicação deste material não mudou muito ao longo dos anos, as tintas naquela época, antes das tintas sintetizadas, não compensavam o gasto com mão de obra e todo trabalho envolvido na sua utilização, pois duravam pouco na área externa.
As primeiras formulações em laboratório de tintas buscavam a proteção, resistência e durabilidade delas mesmas, como também a manutenção e durabilidade dos substratos, sejam eles em alvenaria, madeira ou metais.
Estas tintas mais “rústicas” eram à base de solvente, pois ainda não havia uma tecnologia para resinas sintetizadas aquosas, isto só iria aparecer anos depois. Eram todas brilhantes, porque esta é a primeira regra de durabilidade de uma tinta. Quanto mais brilhantes, mais resina; quanto mais resina, mais resistência, durabilidade, impermeabilidade, lavabilidade, aderência.
Como a intenção de sua criação era a proteção contra o desagregamento das argamassas, o apodrecimento das madeiras e a corrosão dos metais, direcionamentos do produto para o segmento decorativo viriam se desenvolver com o passar dos anos e a evolução natural deste produto.
Derivações para tintas foscas, acetinadas, específicas para madeiras ou metais, texturas e efeitos, só apareceriam anos depois, a urgência no momento era perpetuar o máximo possível e da melhor forma a integridade dos substratos e otimizar os custos envolvidos. Tanto eram assim, que não existia uma grande opção de cores, apenas algumas derivadas das cores primarias e só, justamente porque o conceito decorativo como eu disse viria mais tarde.
Era uma grande novidade na época, a criação de um produto que iria triplicar, quadruplicar, quintuplicar sua própria durabilidade, sem que o consumidor se preocupasse em repintar por muito mais tempo, foi uma grande revolução, que mudou completamente o mercado de tintas na época.
Chegando aos dias de hoje, temos muito mais atributos explorados e ou extraídos de uma tinta, podemos citar: proteção, decoração, valorização, higienização, reprodução de materiais, etc.
Assim, chegamos ao ponto que gostaríamos, naquele ponto lá do século 19, a proteção, que ficou nos dias de hoje um pouco esquecida e deixada um pouco de lado, sendo amplamente substituída pelos atributos de rendimento e cobertura. Ou seja, para muitos, tinta boa é aquela que cobre e rende, mas isto não é bem assim, não é mesmo?
Vamos fazer uma analogia com veículos. O primeiro carro popular conhecido foi criado pela Ford em 1927, se chamava Ford T, onde sua principal e única função era a locomoção sem necessidade de animais como o cavalo, e com uma velocidade e praticidade muito maior. Isto foi uma grande novidade, não pela criação dos carros, pois eles já existiam, mas pela inovação de colocar o produto à disposição de um número maior de pessoas. O Ford T era oferecido em apenas uma cor e não existiam opcionais. Com o passar dos anos, como a maioria dos produtos, o carro foi evoluindo até chegar nos dias de hoje, onde somente o atributo locomoção não é suficiente, fazendo com que o consumidor escolha uma marca e modelo por outros atributos que mais lhe agradem: design, potência, cores, ar-condicionado dual zone, interiores e exteriores personalizados e por aí vai, são infinitas possibilidades.
Claro, falamos de carros talvez não populares, mas até mesmo os populares hoje são cheios de opcionais, que também fazem com que a escolha seja muito mais abrangente do que apenas o fator locomoção.
Voltando às tintas, não estamos dizendo que os atributos de rendimento e cobertura devem ser esquecidos ou deixados de lado, pois são muito importantes também para o profissional pintor e consumidor final, mas no nosso entender, é uma obrigação dos fabricantes entregarem um produto que atenda estes requisitos, sempre dentro de suas classificações (Premium, Standard ou Econômica). O que queremos dizer é: vamos deixar esta “guerra” um pouco de lado e buscar inovações que realmente tragam valor ao produto, percebidas e buscadas pelos consumidores.
Enxergamos que é isto o PSQ (Programa Setorial de Qualidade) quer fazer com o mercado de tintas, tirar um pouco o foco do rendimento e da cobertura, equalizar os fabricantes que fazem parte do programa, facilitando a vida do consumidor e colocando um desafio de inovações realmente diferenciadas dentro do segmento, como por exemplo:
Tintas refletivas que reduzem temperaturas internas do ambiente (olha o aquecimento global aí!);
Tintas repelentes a insetos;
Tintas não combustíveis;
Tintas que não desbotam;
Tintas resistentes a umidades negativas;
Tintas pós-aplicação contendo nanocápsulas de tinta líquida, onde ao ter seu filme riscado ou rompido, ela se auto retoca preenchendo o espaço vazio;
Tintas que neutralizam o processo de carbonatação das argamassas e evitam as manchas.
Por aí segue. Estes exemplos acima já estão disponíveis tecnologicamente para todos os fabricantes, aguardando o interesse em investir e desenvolver produtos realmente inovadores. A realidade é que ainda não se conseguiu “virar a chave” como deveria, mas o momento é este. Investir, colocar a cabeça para pensar, criar, surpreender. É isso que nosso mercado de tintas precisa para o século 21.
Agora, como sabemos, existe a classificação Super Premium. Que tal aproveitar este “super” e fabricar super tintas, que atendam às reais necessidades dos consumidores? Que tal sair do “mais do mesmo” como muito se vê, lançando no mercado produtos tão parecidos um com o outro, onde o consumidor não consegue nem de longe saber qual a diferença entre eles, acabando por optar pelo “de sempre” para não ter surpresas negativas ou o porquê dos atributos colocados não o convencem?